Hoje é um dia especial.
O governo não caiu. A crise não acabou. Não ganhei o euromilhões - se bem que isso é difícil já que não jogo. Hoje não nevou no Algarve. Hoje passei nas ruas de Lisboa e não vi nenhuma amendoeira em flor. O ser humano não conseguiu a paz mundial. O rio Tejo não foi promovido a mar, apesar do seu aspecto. Os cientistas não descobriram a forma de viajar no tempo. O alfa pendular da CP não parou em Sete Rios, como sempre. Ainda assim, é um dia especial.
A única carta que resta |
A questão é simplesmente esta: hoje era o teu dia, por isso, hoje é um dia especial. Hoje quem te amava e te ama ainda lembra-se de um jantar, de uma camisa engomada até à perfeição, de uma sessão de cinema, que, talvez, quererias fazer, usar e ver.
As minhas memórias de ti já são tão velhinhas, tão usadas, tão faladas e fico triste de não poder ter novas com mais canções, aventuras e diálogos. O problema da morte é esse. Assim que deixaste de aqui estar connosco, tudo o que é teu é memória. Tudo o que me lembro é aquilo que pude guardar nos sete anos que partilhámos. Não tenho mais memórias. Talvez, por isso goste de ouvir as pessoas falarem de ti. Quando as ouço tento roubar essas memórias numa tentativa desesperada de te conhecer melhor e de estar contigo mais uma vez.
Hoje é dia 7 de Fevereiro de 2013. Há muitos, muitos anos atrás eu e tu sentávamos-nos na mesa da sala de jantar e, com umas cartas pequeninas azuis e cor-de-rosa, jogávamos um jogo, sobre o qual não sei explicar as regras. Hoje, sei que a tua regra mais sagrada era deixar-me ganhar. E eu, com o meu nariz empinado, lá ganhava sem qualquer mérito; ganhava uma canção que tu cantavas sempre que, por alguma razão que desconheço, queríamos ir buscar uma carta ao baralho, aprendi a contar com esse jogo que tu inventaste só para mim, mas acima de tudo ganhei um amor, uma ternura que não sei explicar e que desejo que todas as crianças do mundo tenham.
O sete de espadas que ficou |
Feliz Aniversário.
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